Veja os programas originais das peças no final desta editoria
Duas vezes no Ciclo Brasileiro de Leituras da Funarte
A despedida dos palcos
As duas últimas vezes que NORMA SUELY subiu no palco foram no CICLO DE LEITURAS BRASILEIRAS da FUNARTE, realizado no Teatro Glauce Rocha em 2004. Eu tive a honrosa oportunidade de convidá-la a participar das leituras dramáticas que fiz a curadoria: “O Telescópio” de Jorge Andrade e “A revolução dos beatos” de Dias Gomes.
“O Telescópio”, a primeira peça escrita pelo grande dramaturgo paulista Jorge Andrade, foi dirigida por Jacqueline Laurence e teve elenco estelar: NORMA SUELY, SÉRGIO BRITTO, NICETTE BRUNO, PAULO GOULART, ANA BOTAFOGO, GIULIA GAM, ANDRÉ VALLI, TADEU MELLO, FRANSÉRGIO ARAÚJO e KARLA MUGA.
“A Revolução dos beatos” de Dias Gomes, eu mesmo dirigi a leitura com elenco igualmente estelar: NORMA SUELY, EMILIANO QUEIROZ, IDA GOMES, FELIPE CAMARGO, ILYA SÃO PAULO, TADEU MELLO, ANTONIO DOS SANTOS, ANTONIO PITANGA, KARLA MUGA, SERGIO FONTA e FABRICIO VALVERDE.
Em “O Telescópio”, NORMA viveuAlzira, uma simplória vizinha do interior casada com Antenor (PAULO GOULART). E como ela valorizou uma personagem de importância na trama mas pequena em número de falas! O curioso é que arrancou risada na platéia superlotada quando está vendo pelo telescópio as estrelas no céu. Deu um grito tão vivo que surpreendeu a todos quando mirou uma estrela cadente: “...Aaai!! Uma estrela caiu!...A estrela parece que pegou fogo, compadre... Ela fez uma risca no céu. Pensei que fosse explodir!” Entre os convidados estava Fernanda Montenegro que fez “O Telescópio” na televisão duas vezes: em 1961 no Grande Teatro Tupi (TV Tupi) e em 1963 no Grande Teatro, na TV Rio. Recordo-me do seu entusiasmo ao cumprimentar NORMA nos bastidores.
Em “A revolução dos beatos”, ela desdobrou-se em duas personagens: a Beata e a Moribunda. Na verdade, era o Moribundo, mas resolvi dar a ela a participação para valorizar sua presença. E assim aconteceu. Valorizou tanto que em vez de causar na platéia comoção ou aflição, arrancou estrondosa gargalhada com sua verve de humor sempre afiada.
É importante que se diga que o ano de 2004 foi efervescente na FUNARTE, então presidida por Antonio Grassi na primeira gestão, quando projetos musicais, das artes plásticas e do teatro foram fomentados com patrocínio da Petrobras. A dinâmica Cristina Pereira, ao lado de Antonio Gilberto, coordenavam os eventos do Teatro Glauce Rocha, e foi ela quem me convidou para pilotar estes dois projetos que deram a oportunidade derradeira de ter NORMA SUELY no palco. E como foi bom...Ave!
Elenco do musical “Os Fantastikos” (1965). No sentido
horário, vemos: Nestor Montemar, Perry Salles, Rubens de Falco,
Aníbal Marota e Lafayette Galvão. No centro, Norma Suely.
Embaixo: Emiliano Queiroz, Suely Franco e Gracindo Jr.
Norma contracenando com Aníbal Marota e Acyr de Castro.
Norma Suely com Emiliano Queiroz no musical que revolucionou
os anos 60: “Onde Canta o Sabiá”,
dirigido por Paulo Afonso Grisolli, estreado no Teatro
do Rio.
Norma contracenando com Marilia Pêra, que estreava
em musicais.
Com o sucesso da primeira temporada, o espetáculo
foi remontado no Teatro Copacabana com o nome de “Sabiá
67”. Vemos na foto, no sentido horário:
Antonio Pedro, Emiliano Queiroz, a coreógrafa
Sandra Dickens, Spina e Joel Barcellos. Na segunda
fila, Betty Faria, Suzy Arruda, Nestor Montemar, Gracindo
Jr, Norma Suely e Victor di Mello. Embaixo, Maria
Gladys e Marieta Severo.
Como Carlota Joaquina, Norma Suely teve como partner
Fregolente, vivendo D.João VI em “Independência
ou Morte” (1972).
Na cena com Amândio.
Nos jardins do Clube Hípica na Lagoa, Norma Suely
posa para fotos de publicidade à caráter
como Carlota.
Cena de “Bordel da Salvação”,
famosa peça do irlandês
Brendan Behan (“The Hostage”) que Nestor
Montemar montou no
Teatro Opinião em 1972. Com Emiliano Queiroz,
Norma Suely formava estranho casal, ela na pele de
um sargento do Exército da Salvação
que tenta converter um degenerado sadomasoquista.
Em cena com Ivone Hoffman.
No Circo New Catacumba, Lagoa, Norma Suely reaparece
como vedete em “Tem Piranha na Lagoa”
em 1973, mais uma vez dirigida por Paulo Afonso Grisolli.
Em cena com Mário Jorge.
No espetáculo de Grisolli, Norma narra uma
versão pop da história de Cinderela,
com músicas de Zé Rodrix.
Sérgio Britto produziu no Teatro Teresa Rachel
o musical
“Missa Leiga” em 1973, dirigido por Ademar
Guerra. Na cena, Norma Suely com Eduardo Machado (Leela
Dah).
Em “O Ministro e a Vedete”, vaudeville
montado em 1974 no
Teatro Gláucio Gil, Norma Suely mais uma vez
atua com Nestor Montemar dirigida por Geraldo Queiroz.
No elenco, Ítala Nandi, Ary Fontoura, Luiz
Armando Queiroz, Ângela Leal, André Valli,
Heloisa Mafalda e Martin Francisco.
Sua participação em “O Ministro
e a Vedete” teve rasgados elogios do público
e da crítica. Gilberto Braga, na época
crítico de teatro do jornal O Globo, recomendou
o espetáculo com destaque para seu número
de canto. Leia a crítica na Editoria de Imprensa.
Um dos maiores sucessos do teatro nos anos 70, “Greta
Garbo, Quem diria, Acabou no Irajá” deu
impulso especial na carreira de Nestor Montemar. Norma
Suely substituiu Arlete Salles como a prostituta Meire.
Viajando pelo Brasil Norma Suely, mais uma vez na trupe de
Nestor Montemar, na peça “Seqüestro
na Sauna”. Também em cena, Andréa
Guerra.
Um dos últimos espetáculos em que Norma
Suely atuou, “Seqüestro na Sauna”
viajou pelo norte e nordeste, produção
de Nestor Montemar em 2000.
Norma Suely com a amiga Bárbara Martins na montagem
de “O Patinho feio” em 1996 no Teatro
da Galeria. Bárbara Martins montou “O
Patinho Feio” pensando ficar poucos meses em
cartaz. Com o sucesso da montagem, rolaram dois anos
de temporada.
No filme “Cangerê” (1956), dirigido
por Yolandino Maia, Norma Suely contracena com Waldir
Maia na calçada de Copacabana.
Sem nunca ter atuado em cinema, Norma Suely aceitou
o convite da LusoFilmes para rodar “Cangerê”,
argumento inspirado no folclore nordestino. Em cena
com Claudiano Filho e atriz não identificada.
O diretor J.B.Tanko, aproveitando o boom da Fórmula
1,
rodou o longa “Rally da Juventude”(1972).
Norma Suely dirigia um
envenenado calhambeque, fazendo altas barbeiragens
e promovendo muita confusão. Na cena com Zeni
Pereira.
“Helena”, na TV Manchete, foi realizada
em 1987 e marcou a última aparição
de Norma Suely em novelas. Em cena contracenando com
Luciana Braga e Marcos Breda.
Foi Isabel Ribeiro quem indicou Norma Suely para a
novela “Helena”. Ela participou de dez
capítulos como a Marquesa de Santos. Na foto,
Marcos Breda, Luciana Braga, Maiara Magri, Isabel
Ribeiro e Norma Suely com a diretora Denise Saraceni.
Silvio Correia Lima, Albinete, Norma Suely, Leila Diniz e Paulo Taboada.
“Tem
Banana na Banda” (1970), revista dirigida
por Kleber Santos e estrelada por Leila Diniz, teve
como vedetes vedetes Tânia Scher, Norma Suely
e Valentina Godoy. Em cena com Ivan Sena.
No
elenco, Nestor Montemar e Ary Fontoura. A revista
tropicalista marcou a estréia de Luiz Carlos
Ripper como figurinista e cenógrafo. O pequeno
palco do Teatro Poeira de Ipanema foi tomado por
cores e frutas tropicais, assim como a baiana estilizada
de Norma Suely.
No
quadro da televisão, uma paródia aos
programas do apresentador Flávio Cavalcante,
onde Norma Suely brincava de jurada e dava nota 10
para todos os calouros, como Márcia de Windsor
fazia na TV. Em cena com Paulo Taboada, Valentina
Godoy e Luiz Peduto.
Norma Suely soltava trinados “à la Dalva de Oliveira”
ao cantar “Brasil” no quadro final de “Tem
Banana na Banda”.
Leila Diniz abraçada com as mulatas Regina Bocão,
Alessandra Paskin e Zeli Silva. Ao lado, o costureiro
Fernando Bedê que deu acabamento aos figurinos
da revista.
A decaída
“Tem Banana na Banda” trouxe Norma Suely de volta
aos palcos depois de um ano afastada da carreira,
afastamento motivado pela perda de sua mãe.
À convite de Nestor Montemar, Norma aceitou
integrar o elenco da revista ipanamenha, o que colaborou
para seu restabelecimento. E fez grande sucesso, muito
à vontade cantando e dançando de vedete.
Mas o maior acontecimento de Norma na “Banana”
foi o monólogo “A Decaída”,
que o estreante autor José Wilker escreveu
especialmente para ela. Leia a seguir o texto original:
A DECAÍDA
de José Wilker
Escrito para a revista “Tem Banana na Banda” (1970) –
Teatro Poeira de Ipanema.
Direção de Kleber Santos.
Produção: Luiz Fernando Goulart e Marco
Aurélio Moreira Leite.
Mulatas: Maria Aparecida, Zely Silva, Regina Bocão
e Alessandra Paskin.
Intérprete: NORMA SUELY.
MULATAS
CANTANDO:
É ser pistoleira, é ser bem faceira,
é ser o que somos nós!
Lá vem a moça pela avenida, rodando
a bolsa, fazendo a vida.
É ser pistoleira, é ser bem faceira,
é ser o que somos nós!
Quando eu começo meu rebolado
Todo freguês fica tarado.
DECAÍDA VAI ENTRANDO COM AR TRÁGICO
PELA PLATÉIA RODANDO A BOLSINHA VAIADA E XINGADA.
INTERROMPE:
Por favor, senhores que me escutam
Concedam-me atenção, jamais o olvido.
Vou lhes contar a história de uma vida,
De uma coutada que sem léu nem déu
Aos nove anos já era uma perdida.
Deflorada...
Por um tio, marinheiro sem navio
Que singrou seus mares, que molhou seu cio...
Essa coutada, essa tresloucada erínia,
Nem bem a vida já descortinava
Essa ex-criança, vê-de, oh Deus,
Sou eu!
Quem hoje assim me vê num total martírio
Não sente o quanto já luziu meu lírio.
De azul e branco coração florindo
Não suspeitava todo o mal do mundo.
Na capelinha da cidade antiga
Onde entoei sentidas orações
Ficou minh’alma e eu, serpentina,
Doidivana, meretriz, eu vício
Entrego o corpo num comércio vão.
Tudo começou em tarde mansa e morna.
Passarinhos “pipinlavam” pelo matagal,
Meu tio foi chegando de mansinho
E fez de mim seu pouso, fez seu ninho.
Ah, que saúde eu tinha, ah degenerada...
Na hora, eu juro, eu não senti nada
Que eu era uma inocente, pura, uma coitada.
No outro dia eu lhe tomei as mãos
Eu me joguei no mato e me lavei no rio.
Daí pra cá, os homens se sucedem
Um dia dois, um outro três, um ano mil...
Eu já não sou mais eu, já não
sou mais nada.
Por isso eu digo agora pras famílias :
Todo cuidado é pouco nessa vida.
Guardai os filhos sob sete chaves,
Fugi do mal, amai o sexo honesto.
Mas orai por mim, ou pelo que me resta.
A minha solidão é a minha cruz
E me mostra os descaminhos desta vida
Eu sei,
Por isso eu digo, apelo, eu grito :
Não vale a pena a vida, isso é um mito!
Isso é um mito, isso é um mito...
SAI RODANDO A BOLSINHA E SENDO VAIADA, XINGADA.
Off: Piranha, porteira de zona, tarada, pistoleira, perua,
meretriz!!
Cronologia
Clique e veja os programas originais das peças